Olá, pessoas!
Ultimamente tenho ouvido muito sobre esta palavra que existe há muito tempo e agora, não se sabe se pela internacionalização de certos termos, ganhou destaque em terras tupiniquins.
O bullying, em termos gerais, é uma atitude lesiva praticada por quem se considera em condição de vantagem sobre outrem, podendo também ser feito de forma verbal, sem contato físico. E, analisando o nosso cotidiano, parece que perdemos a mão com relação a ele. Hoje observamos nossas crianças chegarem, comumente da escola, dizendo que estão sofrendo bullying, o que causa uma certa preocupação.
Mas, retomemos um pouco nossa própria história, àquele tempo em que éramos ‘muleques’: Quem nunca foi zuado na roda de amigos ou teve um apelido jocoso? Eu tinha um que, quando reclamei em casa, após muita risada, meu pai se saiu com essa:
-É só não atender que o apelido não pega!
Confesso que fiquei meio decepcionado, pois achava que ele seria meu defensor, que iria até a escola reclamar ou então, me incentivaria a quebrar a cara do sujeito. Em outro episódio, eu que enchia o saco de um tal de Jovanil. Mirrado, tímido, era sempre o alvo de tudo quanto era chacota: pó de giz no capuz, sapato amarrado na carteira, nó na blusa, cola na folha do caderno. A turma costumava sacaneá-lo pois sabia que a sua mãe era uma arara e não aceitava choradeira. Certa vez quase me borrei na porta da escola ao ver o Jovanil me apontando pra mãe dele:
- Mãe, aquele é o Antonio!
Me escondi igualzinho a um covarde no bolo de gente que adentrava o portão (e até hoje sinto um pouco de vergonha deste momento da reação dela):
- Oi, Antonio. Tudo bem?
Imagina se não perceberam e não me zuaram muito pela covardia diante da mãe do bode expiatório da classe? O certo é que eu nunca fui flor que se cheirasse, embora me achasse, às vezes, um bundão de marca maior. Selfbullying? Já sentei em taxinha na cadeira, tive meu uniforme rasgado, atrapalharam aquele que seria meu primeiro beijo na bonitinha atrás do muro da escola (com direito a farolete e tudo), levei ovada na cabeça, fui chamado de perneta, ruim de bola, magrelo, varetão, ‘quatro olho’. Lembro-me de que, quando tirei minha primeira nota vermelha, um veterano repetente da classe foi até minha carteira e berrou:
- Viu só? Quer dar uma de gostoso, mas é burro.
E por aí se encaminha a longa estrada de azucrinação que eu já percorri. Numa outra ocasião, durante o campeonato de futebol escolar, eu, zagueirão (“põe ele que é mais alto!”) meti a mão na bola em plena grande área e vi meu time despencar pelas tabelas. Só faltou eu ser linchado. Esperei ouvir o silêncio antes de sair do vestiário e cheguei em casa tão deprimido que nem quis assistir à “Vila Sésamo”. Hoje, quando vejo todos os artifícios para blindar nossas crianças, fico pensando:
- E se fosse no meu tempo? Como seria?
- Quais consequências negativas teriam todos esses inputs?
Será que devemos mesmo colocar nossas crianças em embalagens hermeticamente fechadas para livrá-las desses percalços que, de certa forma, ajudam no crescimento, tanto físico quanto emocional?
(Se bem que no meu tempo, as brincadeiras eram sadias e não passavam de instrumentos de diversão para termos o que contar no futuro. Em versões recentes, estas pseudo brincadeiras acabam se tornando caso de polícia. Temos o funesto exemplo do maníaco de Realengo, que, à guisa de ter sido molestado na infância, executou crianças durante a aula e tornou o bullying uma discussão social).
É preciso estarmos atentos a todas as manifestações, que quando se tornam hostis, podem causar sequelas tanto físicas quanto emocionais. Mas, um veneninho até que vai bem de vez em quando. Afinal , qual de nós, já crescido, ainda não se compraz em zuar aquele amigo à beira da churrasqueira ou no futebol de fim de semana? Isto não caracterizaria o “bullying do bem” mesmo para os adultos?
Sei lá. O certo é que eu segui o conselho do meu pai quando quiseram me apelidar e até que funcionou.
É isso.
(uma pequena nota: meu nome é Antonio Carlos Cunha, pois, com certeza, muitos dos leitores ficaram se perguntando: quem é esse tal de Antonio?)
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